Fordlândia9
A Amazônia é muito mais que um rio. É a aparência visível, infinitamente rica em analogias, da realidade das coisas. Isso parece óbvio, quando as linguagens poéticas intervêm para descrever a realidade, esta perde sua agudeza documental e se converte em uma fantasia criativa, especialmente no sentido específico de que o rio encarna a irônica e sombria essência do universo.
Eu contemplei este rio e seus afluentes em pequenas doses, e em pequenos passos, porque como uma criança tímida, ele apenas mostrava sua epiderme; isso eu achei irritante.
Mas viajar com tanta calma significava que tudo o que me rodeava permanecia escondido até que o próprio rio despejasse todos os seus “esplendores” ao longo de seus vários trechos: globetrotters, mendigos, pregadores, aborígenes bêbados, capatazes arruinados, políticos menores, lenhadores, monges, soldados, prostitutas melancólicas… Acho estranho que a bela imagem deste rio, seja na realidade uma bela imperfeição. E a Fordlândia, a tentativa de Henry Ford de transformar a selva numa fantasia do Centro-Oeste americano, é a imperfeição perfeita: um fracasso perfeito do American Way of Life.
Texto extraído do site do autor, em livre tradução.
Nasceu em Mallorca, Espanha (1970). Atualmente vive e trabalha em Madrid. Suas fotografias, que à primeira vista parecem se encaixar perfeitamente no grande nada, envolvem muitas visitas às mesmas paisagens para observar a mudança ano após ano. Seu trabalho ocupa uma posição ambígua em algum lugar entre o retrato e a paisagem social. Publicou os fotolivros One Eyed Ulysses em 2018 e Fordlândia9 em 2020. É autodidata.