Letizia Battaglia sempre encarou a fotografia como instrumento de intervenção e denúncia social.
O catálogo da mostra Letizia Battaglia: Palermo reúne imagens da fotógrafa italiana captadas ao longo de sua carreira.
Com uma trajetória intensa, que envolve desde inúmeras coberturas jornalísticas até a atuação em cargos políticos, Letizia começou a fotografar relativamente tarde, quando tinha 36 anos. Antes disso, vivia em Palermo com as filhas e o marido, com quem se casara aos 16 anos. Em 1971, em busca de seu “direito à liberdade”, como descreve, separou-se do marido e mudou-se para Milão, onde passou a contribuir com alguns periódicos. Na nova cidade, marcada por protestos e uma intensa vida cultural, começou a fotografar e desenvolver sua poética.
Em 1974, foi convidada a retornar a Palermo para trabalhar como editora de fotografia no L´Ora, jornal, com viés de esquerda, que, “nos anos 1970, era o único a denunciar o sistema degradado e corrupto”, como explica Paolo Falcone, curador da exposição e organizador do catálogo. Nesse período, ela conhece o fotógrafo milanês Franco Zecchin, que se tornaria seu companheiro e também parceiro no L´Ora. Juntos, os dois registraram os conflitos da chamada Guerra da Máfia, que assolou a cidade, principalmente nas décadas de 1970 e 1980.
Segundo Falcone, havia, na época, “um pacto entre política e máfia, nascido no imediato pós-guerra, que foi se consolidando desde os anos 1950. A cidade estava sob controle, eles que decidiam tudo: licitações, acordos, divisões de poder, especulação imobiliária”. São fotos de denúncia e engajamento, testemunho de histórias que não podem ser esquecidas.
A publicação apresenta ainda uma série de fotografias de meninas, tiradas pela artista ao longo de sua carreira. As imagens revelam o cotidiano dessas crianças, marcadas pela pobreza e a violência, mas também pela inocência da infância.