“Estas fotografias foram feitas num período de grande transformação pessoal, em que sinto uma sensação de morte e renascimento que, entre outras transmutações, tem a ver com um processo de não me enxergar mais no papel de homem, na categoria binária de gênero imposta pela sociedade racista e heteropatriarcal.”
neste livro, Fe assina também um texto costurado com citações de outras autoras e autores em que se apoia. NO ENCONTRO TUDO SE DILUI foi destaque na revista ZUM e no IMS com uma entrevista onde Fe conta mais desse trabalho e da sua pesquisa na fotografia:
“Em Corpo presente (2019), com imagens feitas na rua, dos corpos em festa, em celebração e luta, fazendo um paralelo com o conceito de biopolítica de Foucault, para falar da máquina que o sistema opera para o controle dos nossos corpos.
Nesse segundo livro, No encontro tudo se dilui, as ruas ficaram vazias e os corpos estão no casulo, a relação com as pessoas retratadas tem um protagonismo maior e a câmera está mais próxima. Vejo um corpo se contorcendo, em transição, tentando manter a memória dos encontros de outrora, querendo explodir as fronteiras do gênero e da tela, na expectativa do contato e do encontro com o outro.”
“Os corpos tinham se transformado em pixels de luz, então ficava pensando o que seria transformar um pixel digital em um grão analógico. Tornar a imagem digital física novamente, na película do filme, em mais uma camada da imagem, e que depois de revelada passa por um processo de scanner digital e volta a ser pixel”
“Também tenho pensado que na nossa sociedade quase tudo é performance, desde o gênero, até como nos encontramos e andamos na rua, ou no movimento de um corpo com uma câmera fotográfica na mão. Fotografar me faz pensar na performance desse corpo que fotografa.”
“Quando montava a sequência das imagens pensava em um filme. O cinema é uma grande influência para meu olhar e enquadramento, a ideia era que cada uma das 33 imagens presentes no livro fossem frames de um fotofilme, onde os corpos se transformam enquanto vão se encontrando e se reconhecendo nesse labirinto de espelhos, feito de câmeras e telas.”
leia a entrevista completa na revista ZUM
Fe Avila & Andressa Ce . 15.03.2022
Fe Avila (São Paulo, 1981), pós-graduado em História da Arte, artista em transformação, realizou a exposição Masculino dócil (2017), em dupla com Helio Siqueira e com curadoria de Eder Chiodetto, e publicou o fotolivro Corpo presente (2019), com participações na FLIPEI e Feira Tijuana, selecionado destaque do ano no Festival ZUM do Instituto Moreira Salles, e parte do acervo da Biblioteca Mário de Andrade. No presente trabalha com a fotografia, pensando na performance, na experimentação da corporalidade, na relação com outros seres da natureza e na câmera como ferramenta para mediar uma outra forma de encontro.
Não há avaliações ainda.