Nesta obra, a artista constrói uma narrativa em que alterna fotos e textos com nuances abstratas e até mesmo surrealistas, para nos levar a reflexões sobre o processo de envelhecimento e a passagem do tempo. Uma observação do cuidado nos dias de hoje a partir de uma vivência privada de mãe e filha. Investigando histórias particulares, sua produção consegue furar o espaço privado para abranger questões universais e comuns ao coletivo. Pelo QRcode ao final do livro tem-se acesso a sua versão digital com audiodescrição.
O Jardim Secreto dos Sonhos Perdidos, da fotógrafa e artista visual Cecilia Urioste (Recife, PE, 1980) é o segundo livro da artista e 12º da Lovely House Editora. Dá sequência a Para Levantar as Forças, lançado de forma independente em 2018.
Seu desenvolvimento foi feito ao longo de dois anos em residência artística virtual do Centro de Fotografia de Montevidéu (Uruguai). Primeiramente, apresentou-se como instalação nos festivais Pequeno Encontro de Fotografia (Brasil, PE) e MUFF, Festival de Fotografia Montevideo-Uruguai, no Centro de Fotografía de Montevideo (CdF). E então, desdobra-se em livro digital e físico publicados pela Lovely House Editora.
A poética de Urioste caracteriza-se por um olhar sobre a esfera íntima, pessoal e familiar, valendo-se do registro do próprio corpo ou de pessoas do seu convívio, além de documentos, objetos e escritos seus ou de parentes. Então produz a maior parte das suas imagens espaço doméstico, onde os objetos guardam uma história ainda não revelada por completo. Como resultado, investigando histórias particulares, sua produção consegue furar o espaço privado para abranger questões universais e comuns ao coletivo.
Nesta obra, a artista constrói uma narrativa em que alterna fotos e textos com nuances abstratas e até mesmo surrealistas. A intenção é nos levar a reflexões sobre o processo de envelhecimento e a passagem do tempo. “Durante todo o processo de edição do livro, eu fugi de colocar imagens que fossem muito literais. Procurei deixar espaços, pois para mim os espaços são tão importantes quanto o conteúdo, ou até mais. É importante dar espaço para a elaboração e interpretação próprias de quem lê um livro meu. Assim, o livro é composto por imagens que são apenas faladas, sugeridas através do texto, e por imagens que, quando são mostradas como fotografia, são apenas rastros, vestígios”, descreve Cecilia.
O corpo, enquanto matéria e sentimento, é a paisagem que nos conduz nesta narrativa atravessada por afetos, para tocar no que há de perene nesta vida: o amor de uma mãe. “O livro também fala sobre o cuidado, pois na nossa sociedade, vê-se o cuidado com o idoso como um peso, e não como um privilégio. Este trabalho é também uma celebração do privilégio de poder cuidar de uma mãe viva”, enfatiza.
Adicionalmente ao fotolivro e à exibição como instalação, O Jardim Secreto dos Sonhos Perdidos está disponível como livro digital no site da artista em vídeo com audiodescrição, desenvolvida por Liliana Tavares. A artista, que lê os textos presentes na narrativa, considera o formato uma espécie de “terceira obra” desta pesquisa.
O projeto teve incentivo através do edital de mecenato promovido SIC – Sistema de Incentivo à Cultura, da Prefeitura do Recife, com apoio do Centro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau).
Cecilia Urioste
Atua como artista, fotógrafa e pesquisadora independente. Pesquisa artisticamente os mecanismos de controle e funcionamento do corpo e as quatro montanhas que cercam a vida: nascimento, doença, velhice e morte. Tem interesse especial sobre as funções sociais e relações de poder da medicina e de seus aparatos na sociedade contemporânea.
Nascida em Recife, Pernambuco (1980), vive na cidade e trabalha predominantemente com fotografia, vídeo e instalações. Formou-se em Design pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com Master em fotografia artística pela EFTI (Madri, Espanha, 2006). Participou de diversas exposições coletivas nacionais e internacionais que inclui a Bienal de Novos Artistas da Caixa de 2017, o festival Panapaná em 2018 e do MUFF Festival de Fotografia de Montevidéu. Seu primeiro livro Para Levantar as Forças, com lançamento em 2018, participou de várias mostras incluindo o Festival Zum 2019 e o Diário Contemporâneo 2020.
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