“O Barroco legitimou exageros. Nasceu na Europa, como ferramenta da Contrarreforma para tentar resgatar fiéis para a Igreja Católica. Ouro, ornamento, adorno. O Barroco encontrou no Brasil o seu melhor palco.
Penso quando o indígena encontrou o branco e adoeceu. Quando encontrou o negro e povoou. No europeu, quando aqui viu pela primeira vez a força da luz de Salvador. Quando Henry Ford sentiu o calor molhado da Amazônia, e viu seu sonho americano ser vencido pelo trópico. Yes, we are bananas. Yes, estamos digerindo mal há muito tempo. O Brasil é uma apropriação que nem da própria apropriação se apropriou.
Aqui tudo é excesso, emoção, incoerência, contradição. O corpo e a alma. O barulho, a linguagem, o espaço, a luz onipresente, o ouro, o calor, a mata, o contraste de classe. O terror e a glória. A alegria e a tristeza acachapantes. Somos um país de verdades múltiplas, coberto pelo manto de candura da hipocrisia tropical, que aqui se formou onde tudo se dissolve no ‘pitoresco’, no ‘saboroso’, no ‘gorduroso’, no ‘apimentado’. Na nossa cultura moralista, que demole e não contrasta, é preciso passar por uma revolução de costumes. Tirar o véu dos olhos do querubim. O Brasil é um sonho que precisa ser despertado.”
YES, NÓS SOMOS BARROCOS
Amarello número 39 — edição impressa
Viva o Mautner!
Índice:
Horácio Costa em entrevista, por Roberta Ferraz
Complexo de Wunderkind e poesias inéditas, de Horácio Costa
Quadra da Mangueira recebe o Amarello Visita
Mirar o Brasil para além do sincretismo: o vasto horizonte de palavras e práticas, por Celso Francisco Gayoso
Pode o Barroco ser quente? Barroco e estéticas faveladas, por Pâmela Carvalho
Viagem pitoresca pelo Brasil, por Cássio Vasconcellos e Daniela Bousso
Telenovelas, simmm, temos!, por Isabel de Castro
Retóricas visuais da Memeflix brasileira, por Giselle Beiguelman
Amanhecer, por Thanara Schonardie
Madureira, território barroco: escolas de samba e lugar de fala, por Mauro Sérgio Farias
Originalidade da arte mineira, por Lourival Gomes Machado
Dois e dois são dois: MC Martina e Acauam Oliveira
Corpa Infinita, por Rafael Bqueer
Carnaval, a epopeia da comunidade serrana – diálogos com a obra Serra, Serrinha, Serrano: O império do samba, por Priscila Carvalho
Conversa Polivox: Jorge Mautner
Imagens e suas metamorfoses, residência artística ACHO
Itcoisa: Moinho de pedra, por Raphael Nasralla
O Amarello é um coletivo que acredita no poder e na capacidade de transformação individual do ser humano. Um coletivo criativo, uma ferramenta que provoca reflexão através das artes, da beleza, do design, da filosofia e da arquitetura.
Um instrumento também a serviço do debate, do Brasil, do contraditório, do dissenso – para que, assim, as pessoas enriqueçam suas próprias realidades.
Não há avaliações ainda.