Enigmático jogo de aparências revelado nos interstícios da construção fotográfica. Um jeito de ser, estar e se autopreservar nas nossas babilônicas cidades contemporâneas.
Golpe de luz. Num átimo o fotógrafo flagra uma mulher abismando-se na escuridão. O triângulo formado por sua saia amarela sustenta-se no ar apoiado pela ponta do pé que, em célere movimento, desenha no espaço um outro triângulo, gerado pela opacidade da sombra. Uma mochila parece em queda livre, pois a visibilidade da alça é obliterada pela contraluz ao envolver o ombro que a sustém. Se a identidade da mulher é ocultada pelo atravessamento de luzes e sombras que recortam o espaço interior da arquitetura, o mesmo ocorre com o busto do emérito homenageado que adorna o vestíbulo. À direita, as texturas da parede surgem realçadas pela luminosidade que lhes encorpa os volumes. As formas geométricas que sobre elas se projetam parecem evocar as Fotoformas de Geraldo de Barros. À esquerda do triângulo amarelo, dois homens conversam e convergem na perspectiva que se apresenta como a entrada de uma misteriosa e lúgubre caverna. Entre esses intrincados jogos de revelações e ocultamentos, surge a Virtude Cênica gerada pelo olho-gatilho de Ricardo Perini. Com particular precisão, o fotógrafo parece abater, em pleno voo, o entretempo das narrativas cotidianas. Advém dessa estratégia a clara sensação de que suas composições sempre se configuram numa espécie de suspensão – suspensão do tempo, da ação, da paisagem e do estado de ânimo, por vezes catatônico, em que os personagens são flagrados na sua deriva pela urbe.