A revista ZUM #15 apresenta a fotografia da americana Susan Meiselas, destaque da edição. Membro da agência Magnum desde 1976, ela registrou conflitos sociais na América Latina, em especial na Nicarágua e em El Salvador. Em entrevista para a ZUM, Meiselas fala da carreira, da experiência de fotografar no Brasil, e do que significa ser mulher em situações de risco e violência.
Em sua conta no Instagram, a renomada artista Cindy Sherman explora os limites da identidade e da representação de si mesma. Para o crítico Daniel Rubinstein, a noção de um indivíduo autônomo é incompatível com o desenvolvimento de novas mídias e com a cultura da selfie.
Os muitos rostos do sujeito contrastam com a existência de um sujeito sem rosto político ressaltada pelos pixels de Éder Oliveira na capa desta edição. O artista pinta jovens com base em fotografias das páginas policiais de periódicos paraenses. O sensacionalismo reproduz preconceito racial e de classe sofrido por homens pobres e miscigenados.
O enfrentamento do racismo também está presente no ensaio sobre David Goldblatt, no qual o curador Rodrigo Moura destaca o esforço do fotógrafo de, depois de ter sua casa invadida, retratar com dignidade ex-detentos nos locais dos crimes que cometeram. Filho de judeus lituanos, Goldblatt, que morreu este ano, cresceu no Soweto, subúrbio de Joanesburgo, e acompanhou o racismo em uma África do Sul pós-apartheid.
Na resenha do livro Sonhar à beira do Mississippi [Sleeping by the Mississippi, 2004], relançado no ano passado pela editora Mack, o crítico português Humberto Brito destaca de que modo Alec Soth se insere e destoa da tradição fotográfica americana. E ressalta ainda o interesse de Soth pela subjetividade dos retratados, para quem o fotógrafo repetiu a mesma pergunta: “Qual o seu sonho?”.
O universo visual dos Estados Unidos profundo também está presente na matéria sobre o fotógrafo Mike Disfarmer (1884-1959). Em depoimento para a ZUM, os colecionadores americanos Michael P. Mattis e Judy Hochberg contam como a descoberta desse fotógrafo ermitão, que influenciaria a produção de nomes como Richard Avedon, desencadeou uma corrida por álbuns de família da pequena cidade de Heber Springs, Arkansas.
Há 50 anos, a fotografia também serviu a um gesto de resistência no Brasil. Dividido no papel de fotógrafo e manifestante, o carioca José Inacio Parente registrou a Passeata dos Cem Mil, momento de resistência e de esperança em 1968 que antecedeu os anos mais cruéis da ditadura militar. As imagens de Parente são acompanhadas do poema “Foto da multidão” (1970), da polonesa Wislawa Szymborska, vencedora do Prêmio Nobel, que encarna o mesmo espírito da época.
A ditadura brasileira também é sugerida pela artista Ana Vitória Mussi ao pintar de preto parte das imagens de partidas de futebol, em alusão ao período de censura e ufanismo na série Barreiras (1972).
Se a fotografia é uma forma de mostrar os limites de uma ideologia ou as desigualdades que ela provoca, é também uma forma de lidar com a dura realidade da morte e, mais ainda, da morte de inúmeras pessoas causada por um desastre natural. É o que lemos no depoimento inédito e brilhante de Lieko Shiga. Ela relata como foi se mudar para a pequena Kitakama, no Japão, tornar-se fotógrafa oficial dessa comunidade e, três anos depois, sobreviver ao tsunâmi que devastou a região. Numa associação original entre texto e imagens, Shiga reproduz o caráter transcendente dessa experiência, no qual o ato de fotografar se revela como uma forma de encarar a morte.
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