Palavras que foram deixadas pelos citadinos anônimos, pelo Estado, pelas instituições, pelas trocas e ofertas comerciais, pelas marcas e identidades visuais, pelas sinalizações, pelo palimpsesto da História, ganham outras camadas, inclusive poéticas, no momento em que as resgato de suas funcionalidades originais. Quando organizo uma coleção dessas palavras, aciono outros significados, abro outros espaços, ativo outras leituras, faço outras montagens. Montagens que ganham propriedade ao reconhecer as vozes anônimas da cidade. Vozes mudas que ecoam das paredes, dos muros, das portas cerradas, dos tapumes, dos pisos e asfaltos. Superfícies da cidade escritas, pixadas, coladas, marcadas, se tornam rebatedores de desejos, inconformismos, revoltas, declarações, inscrições de um tempo. É a expressão de um citadino anônimo que, assim que termina a frase, se ausenta e convida algum outro citadino anônimo a, quase sem cerimônias, receber o recado. Uma fala para o universo, uma conversa com remetente oculto. Caminhar pela cidade é conversar com as paredes.
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