O Rio é uma cidade feita de cidades misturadas ou divididas? Quantas cidades atravessam os quase 59 km de asfalto da Avenida Brasil? E quantas fronteiras são cruzadas por quem acorda na cidade bang-bang para trabalhar na Cidade Maravilhosa? Cidades sobrepostas que se afetam, mas continuam se ignorando.
Há anos fotografo o cotidiano das favelas (periferia) e as transformações urbanas na cidade do Rio de Janeiro, um projeto da prefeitura e do governo do estado que pretendia transformar a cidade para grandes eventos, principalmente a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Nesse processo estive em contato com movimentos que lutam pelo direito à moradia e resistem às remoções forçadas. Também acompanhei as violentas ocupações militares para implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e como elas impactaram a vida dos moradores. Desde então, venho construindo o FAVELICIDADE, um projeto de documentação que apresenta o resultado desse trabalho sobre a relação Favela x Cidade.
Inspirado no livro MALDICIDADE, do fotógrafo Miguel Rio Branco, FAVELICIDADE visa diversificar a produção imagética sobre as favelas, até hoje dominadas por uma representação que estigmatiza e discrimina esses territórios populares e seus moradores. Favelicidade é a narrativa visual de um território marcado por tensões sociais que só cresceram nos últimos 10 anos: ocupações militares, remoções forçadas de moradias, protestos e uma guerra contínua ao tráfico ilegal de drogas que tem produzido números alarmantes de homicídios e revoltas. Este ensaio é um registro do cotidiano fortemente afetado dessas comunidades, fala de um lugar que precisa ser visto como parte importante da cidade, um lugar de resistência e superação que influencia a cultura urbana e a própria cidade.
Luiz Baltar