Lacração . Bella Tozini

“Se há um tema com o qual estou particularmente inquieta é o fracasso contemporâneo do amar (prefiro o verbo e não o substantivo “amor”, porque entendo como ação política). É muito fácil pensar sobre o amor, amar a um deus ou a humanidade. O verdadeiro problema surge quando você se encontra com uma pessoa real e única e a encara: para encará-la, é preciso passar por uma mudança – um grande desafio. Não estou me referindo ao amor romântico, mas ao amar específico do reconhecimento de um ser humano por outro, da troca de um olhar, de uma fala, o toque e entrega de duas vulnerabilidades. Neste sentido, as fotografias que estão neste livro são o resultado de uma busca, um processo pessoal de (re)conexão intenso e profundo, de retomada de consciência do meu ser vibrante. Em 2016, um desassossego tomou conta de mim, uma angústia razoável: paradoxalmente, para saber de mim, precisava saber do mundo; ver meus pares, saber o que estavam fazendo. Comecei a frequentar os espaços criados independentemente pela comunidade artística e LGBTQ+ de Jundiaí e região. Discreta e silenciosamente, eu me embrenhava nos espaços afetivos e híbridos que dissolviam, em suas composições, proposições e desejos, as normas e naturalizações políticas e sociais. Assim, eu mergulhava em uma deriva irreversível.”
Bella Tozini