Esta publicação é dedicada à trajetória e obra da artista mineira Maria Lira Marques (Araçuaí, 1945), que rompeu barreiras e nomenclaturas, estabelecendo-se no circuito de arte contemporânea. Mais que uma monografia, o livro busca destacar a relação visceral da artista com o território que a forjou, o Vale do Jequitinhonha, bem como resgatar elementos da tradição popular em sua estética e prática.
Act
(1945, Vale do Jequitinhonha, Araçuaí, MG)
Pintora e ceramista, utiliza o barro como matéria prima para o seu trabalho. É pesquisadora da Cultura Popular, foi o braço direito de Frei Chico, pároco holandês e também pesquisador, ajudando a divulgar os segredos e tesouros do seu povo. As pesquisas de Lira começam no Folclore, depois assumem um tom mais sociológico. Lira integra o Coral Trovadores do Vale, fundado por Frei Chico em 1970, com a proposta de valorizar a rotina e os costumes do Vale do Jequitinhonha, ela tem contribuído desde a sua gênese na coleta de cantos tradicionais e danças de roda para o coral. É participante ativa da Associação de Artesãos de Araçuaí, onde luta para proteger os interesses dos artesãos frente à massificação promovida por outros grupos paralelos.
Assim é Maria Lira, uma mulher simples, de origem humilde, extremamente sensível, autodidata, engajada nas questões importantes da região de Araçuaí; politicamente consciente, reconhece-se como mulher negra e índia. Ela se formou e se transformou a partir do contato e do aprofundamento da cultura local através das pesquisas que realiza. Voluntária contínua, quer sempre ajudar a proteger e promover. E é neste contato com o próximo, que ela se nutre e se inspira para as suas criações, profundamente enraizadas; quando cria, evoca a sua ancestralidade, caminhando sobre o túmulo dos seus antepassados, encontrando as origens da sua formação cultural e racial.
As pinturas que Maria Lira faz são quase rupestres, povoadas por figuras de animais imaginários, alguns antropomórficos, outros como pássaros e lagartos, personificam a Natureza da caatinga; é do barro que vem os pigmentos que utiliza. O Seu trabalho em cerâmica, conta com máscaras e figuras criadas pela sua mente que remetem aos personagens e emoções do Vale. Lira também trabalha com pedras onde imprime seus desenhos rudimentares com cola e terra. A Lira diz que não cria, ela pare, dá a luz a suas peças. Suas obras são fruto do florescer da auto expressão e retrato da identidade do Vale do Jequitinhonha.
Por Rodrigo Moura / AM Galeria
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