Amiga da amiga. Ela.
Foi um encontro casual. Uma exposição que nos levou a outra exposição para tudo terminar em uma mesa de bar. Expostos. Um segundo encontro. Ao acaso. Um pós-praia. Eu, ela e a amiga minha e dela. Mais expostos e dispostos ainda ela conta que escreve, fala de uma ideia que gostaria de escrever. Sobre os caldos que tomamos no mar, das ondas que nos viram, desviram, bagunçam tudo. Aquele lapso de instante que não sabemos onde está o chão, onde está o céu. Revirados. O caldo.
Gostei de imediato e quis lhe dar a mão para sair deste liquidificador oceânico. Contei que faço fotos e que tinha algumas que poderiam dar um caldo com o texto do caldo dela. Ela topou, pediu um tempo. Até que o texto veio.
Fiquei sem ar. Adorei ficar sem céu pra pisar e nem saber onde estava o chão pra voar. Voei! Chamei pra ver minhas fotos. Ela curtiu. Como quem ainda busca o ar, como quem ajeita o cabelo revirado pelo mar, ela pediu um tempo já que não estava querendo mergulhar nesse mar, nesse momento. Buscava terra firme.
A ideia do caldo dela não saiu de mim. Resolvi mergulhar sozinho. Fui de cabeça. Furei ondas, passei da arrebentação, busquei mares mais tranquilos, mas que nada. O que eu quero é o caldo dela, o que eu quero é confundir tudo: mergulhar no céu, nadar no chão, fincar os pés no mar. E assim, quando me vi e não me achei, eu estava me afogando e respirando no caldo dela.
Obrigado amiga da amiga! O seu caldo me fez nadar!
Noni Levinson
Israelense, carioca na vida, fotógrafo e engenheiro. Começou a fotografar na adolescência com câmera analógica. Passou alguns anos sem fotografar e retornou já no mundo digital. Tem um olhar para os detalhes e no que normalmente não paramos para ver, que para o artista é um exercício de ver o belo, do clique ao tratamento da foto.
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