Inventar primaveras, como quem sonha e imagina novos mundos. Foi assim que esta publicação surgiu, quase como uma manifestação ou acidente, do desejo de achar respiro e criar novas poéticas de subida à superfície quando tudo parece nublado, embaçado ou labiríntico.
Tenho rabiscado as palavras mais como exercício do que como veículo. Palavra caminho, palavra gaveta das coisas que a gente tira de dentro e organiza nas sequências das combinações das frases. Apesar de tudo, gosto da língua portuguesa. Não sei se porque a domino ou se porque tem essa coisa toda da entonação, palavra que canta sem precisar de instrumento, palavra som. Gosto mesmo do português brasileiro, que talvez devesse ter outro nome enquanto língua, porque nunca foi o português de lá, nunca vai ser o português que muitos almejam aqui. Palavra serpente, palavra que troca, transmuta e ganha forma, palavra camaleão. Gosto de escutar as muitas possibilidades dessas palavras que aqui inventamos, transgredimos, transmutamos, não gosto de escutar quando alguém de um lugar diz que alguém de outro lugar falou algo errado, palavra não é represa, palavra peixe, palavra deslizante, palavra correnteza.
Gosto de pensar na palavra como ferramenta que encanta, enfeitiça, se amostra, palavra pavão. Palavra poder que magoa, que fere fundo mais que uma faca, que um machado, que uma arma, palavra facão, palavrão. E também palavra que limpa, aconchega, abraça, palavra afeto, palavra cura, palavra coração.
Cresce, diminui, faz brilhar e apagar na mesma intensidade, palavra perigo, palavra vulcão.
Como exercício, palavra atenção.
Mariana Queiroz
Multiartista brasileira nascida em Minas Gerais e radicada em São Paulo, que usa da escrita e do próprio corpo como ferramenta de expressão, além de explorar as linguagens da fotografia, da fotoperformance e do videoarte.
Realiza desde 2010, pesquisas que dialogam com o corpo e suas possibilidades plásticas, unindo foto, vídeo, poesia, dança e performances de variados temas, buscando transitar entre o metafórico, o provocativo e o sensível.
Os principais temas que envolvem seu trabalho costumam transitar entre as poéticas da magia, as possibilidades plásticas do corpo humano, a busca pela sensibilidade em observar a natureza e as relações humanas.
Não há avaliações ainda.