“Observe sua rua de vez em quando, talvez com um pouco de cuidado sistemático. Aplique. Não tenha pressa. Anote o local: a esplanada do café perto do cruzamento Bac-Saint-Germain. O horário: sete da tarde. A data: 15 de maio de 1973. O tempo: bom com certeza. Escreva o que você vê. O que for importante. Podemos ver o que é importante? Existe algo que chama nossa atenção?
Nada chama nossa atenção. Não sabemos como ver.
Você tem que ir mais devagar, quase desajeitado. Obrigar-se a escrever sobre o que é desinteressante, o que é mais óbvio, o mais comum, o mais estranho.
A rua: tentar descrever a rua, de que é feita, para que serve. Pessoas na rua. Os carros. (…) Imobiliária. (…) As lojas. (…) Os mercados. (…) Não diga, não escreva . Obrigando-se a exaurir o assunto, mesmo que pareça grotesco, fútil ou estúpido. (…) Descubra um ritmo. (…) Olha as placas dos carros. (…) Leia o que está escrito na rua. (…) Continuar. Até que o lugar se torne improvável, até que você tenha a impressão, por um breve momento, de estar em uma cidade estrangeira.”
(Perec, Espécies de espaços, 1974)
Com base nesta proposta apresentada pelo escritor francês Georges Perec, no livro Espécies de Espaços e também na Tentativa de Esgotamento de um Local Parisiense, a oficina (e depois o livreto-caderno de campo) visa estabelecer uma leitura entográfica de alguns quarteirões do bairro Franklin (ou de qualquer outro local a sua escolha). Pretende-se explorar o cotidiano percebido, anotado e registrado neste caderno de campo etnográfico. Mapeando o cotidiano, a passagem do tempo, o ordinário e o insignificante. Escreva o espaço vivido: anotações, esboços, adesivos, gravações, coleções de trapos. Em suma, o processo abordará os personagens, portas, cantos, sons, diálogos, obras, texturas, movimentos, animais, tempos, memórias, vestígios, rastros. O cotidiano urbano inesgotável e incontrolável.
Aprecie o que acontece quando nada acontece.
Este caderno de campo é apenas uma sugestão de inventário. Existem 15 itens a serem observados e anotados. Fique à vontade para explorar o local à sua escolha a partir desses elementos ou até criar outra lista de observações.
Sócio do Estudio Ceda el paso, na Galeria Sete de Abril, é Arquiteto formado pela FAU-UFSC, doutor em Crítica e Estética da Metrópole pela FAUMACK, professor de crítica e leituras urbanas no curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário SENAC. Atua desde 2010 como explorador gráfico, expondo projetos em serigrafia com a temática das coleções, coletas e perambulações urbanas. Desde 2005 investiga o cotidiano da Cidade a partir de caminhadas urbanas. Desde 2005 investiga o cotidiano da Cidade a partir de caminhadas urbanas (curtas e longas, matinais e noturnas, solitárias e coletivas) e produz materiais diversos de registro e apropriação, experimentando desde desenhos, mapas psicogeográficos, coleções de objetos encontrados até séries fotográficas (estas últimas sempre postadas e compartilhadas no Facebook e Instagram). Destas investigações urbanas surgem as séries fotográficas “DAS COISAS QUE…”, coleções de registros de objetos ordinários e acontecimentos cotidianos aproximados sob determinada temática, sempre ambígua ou de dupla interpretação.
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