Iatã Cannabrava esteve na Rússia em 1985 para participar do Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes pela Paz Mundial. Foi testemunha do início do fim da Guerra Fria, ou do desmonte da cortina de ferro – “quem sabe, o fato mais importante do milênio que findava”, diz o fotógrafo. O resultado desta viagem, seu primeiro ensaio fotográfico, poderá agora ser visto no livro Pagode Russo.
O título, escrito no idioma russo na capa do livro, é uma referência à canção mais tocada naquele verão, o baião de Luiz Gonzaga – “Ontem eu sonhei que estava em Moscou, dançando pagode russo na boate Cossacou”. Nas imagens, aquela União Soviética, que se mostrava ao Ocidente como um mau supremo, se revela ingênua, generosa e delicada. O autor explica: “onde esperava encontrar rostos duros, encontrei generais repartindo maçãs”.
As 47 fotografias, agora reunidas, são um passeio cromático pela cidade de Moscou. Atual, longe de ser um livro histórico, Pagode Russo confunde o que seria passado, presente ou futuro em imagens que ficaram congeladas. Realizado há quase 30 anos, o ensaio carrega o estilo que acompanha o trabalho do fotógrafo: o olhar dirigido a cenas urbanas, temas comuns, gente simples, onde ordinário tem maior importância e o banal vale mais que o especial.
No único texto do livro, com versão em russo e em inglês, Iatã Cannabrava declara que “antecipa suas memórias” ao filho, Ivan. Durante a infância, o fotógrafo acompanhou o exílio político dos pais e, ao retornar ao Brasil, tornou-se militante do PDT, de Leonel Brizola. Estas imagens guardadas – e quase esquecidas nos 25 anos seguintes aos cliques -, só vieram à tona quando casou-se com a russa Ekaterina Kholmogorova, designer do livro e certamente a pessoa responsável por tirar do arquivo os originais que o autor não havia dado importância quando feitos.
[quebra-de-coluna]
IATÃ CANNABRAVA iniciou a carreira de produtor cultural em 1989, presidindo a União dos Fotógrafos do Estado de São Paulo. Em 2002, dá início ao Estúdio Madalena, empresa voltada à produção cultural em Fotografia. Foi criador de projetos como Foto São Paulo (2001) e Povos de São Paulo – Uma Centena de Olhares sobre a Cidade Antropofágica (2004). Coordena o Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, promovido pelo Itaú Cultural, e está à frente do Festival Internacional de Fotografia Paraty em Foco desde 2006. Vem pesquisando a fotografia moderna brasileira desde 2006, sendo curador da mostra Moderna Para Sempre. Como fotógrafo, tem uma obra voltada à transformação das cidades através de sua arquitetura e seus habitantes. Participou de mais de 40 exposições e tem dois livros publicados. Além disso, é fundador do Madalena Centro de Estudos da Imagem, fruto de um projeto de longa data que visa fomentar a educação visual. Recentemente, ao lado de Claudi Carreras e Claudia Jaguaribe, criou a Editora Madalena, dedicada exclusivamente à publicação de fotolivros.
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