Nesta edição, fotografias de: Annie Ernaux, Ayrson Heráclito, Lotty Rosenfeld, Luiz Zerbini, Marc Marie, María Magdalena Campos-Pon, Milagros de la Torre, Rosa Gauditano, Sammy Baloji, Zahy Tentehar.
Textos de: Alexia Tala, Amanda Bonan, Annie Ernaux, Luiz Zerbini, Marc Marie, Milly Lacombe, Natalia Majluf, Odette Casamayor-Cisneros, Renata Tupinambá, Sandrine Colard
Revista Zum #26
A 26ª edição da ZUM, revista de fotografia do Instituto Moreira Salles, chega às livrarias com destaque para os autorretratos da artista cubana María Magdalena Campos-Pons, capa da edição, que fragmenta a imagem do corpo para aludir à experiência da diáspora africana e de mulher negra latina. Diante dessa multiplicidade, a escritora e professora Odette Casamayor-Cisneros parte da pergunta: “quem é, afinal, María Magdalena Campos-Pons?”, numa análise compreensiva do trabalho da artista.
Destaque ainda para a artista Zahy Tentehar, que, por meio da investigação em filmes e em videoinstalações sobre a sensorialidade e as memórias ancestrais, defende as identidades dos povos originários como ferramentas de encantamento e resistência à civilização. Para a jornalista, escritora e curadora Renata Tupinambá, que assina o texto que acompanha as imagens de Tentehar, sua arte “se apresenta como um caminho para o enfeitiçar e o encantar”. Na abertura da edição, o artista e ogã Ayrson Heráclito inspira-se no candomblé baiano e na cosmologia iorubá para aproximar o real e o mítico em suas fotografias, vídeos e instalações. Segundo ele, sua missão é exorcizar a história. Amanda Bonan, curadora do Museu de Arte do Rio, escreve que, para Heráclito, “descolonizar – ou, melhor, exorcizar – o conhecimento significa livrar-se da influência de um modelo de pensamento ocidental e reescrever a história com base em outros pressupostos”.
Em Sob o sol negro, a artista peruana Milagros de la Torre inverte a lógica documental e tira a visibilidade dos retratos de lambe-lambes de Cusco, jogando o foco para a superfície dos negativos, chamando a atenção para as estruturas da representação social. A curadora e pesquisadora Natalia Majluf afirma que a série, produzida entre 1991 e 1993, marca um momento crítico na ruptura com a fotografia modernista no Peru, em direção à arte conceitual.
Em fotografias e textos do livro O uso da foto, inédito no Brasil, a ganhadora do prêmio Nobel de Literatura Annie Ernaux e seu parceiro Marc Marie revelam os rastros de seus encontros amorosos. A partir das imagens, os dois refletem sobre a intimidade, a guerra, o câncer enfrentado por Ernaux e a capacidade da fotografia de reter o tempo.
Mulheres são também tema para as lentes da fotógrafa Rosa Gauditano, que apresenta lésbicas em momentos de lazer e liberdade em sua série Ferro’s Bar, realizada nos anos 1970 – uma história de beleza e coragem que reflete as lutas contemporâneas contra a opressão. “Observar as lésbicas das décadas de 1960, 1970 e 1980 é compreender a importância da coragem que elas tiveram”, destaca a jornalista Milly Lacombe no texto que acompanha o ensaio.
Em A beleza é um portal, o artista Luiz Zerbini compartilha seu processo de trabalho em fotografias, rascunhos de projetos e textos autorais acumulados ao longo de sua carreira.
A ZUM #26 traz ainda as colagens de O álbum, parte do projeto Caça e coleta, do artista Sammy Baloji, em que ele se apropria de um álbum de fotografias de um major do exército do Congo Belga para associar as práticas de documentação fotográfica com a predação colonial e a exploração da paisagem congolesa. Para a professora de história da arte e mestra em estudos africanos Sandrine Colard, em suas montagens, “Baloji enfraquece o que Michel Foucault chamou de ‘a ordem das coisas’ – os modos ocidentais de construir e classificar o conhecimento –, denunciando-o como arbitrário, fraudulento e perigoso”.
Por fim, nas obras Moção de ordem e Uma milha de cruzes sobre o pavimento, a artista Lotty Rosenfeld traz um questionamento dos espaços de poder para continuar criando o futuro, 50 anos depois do golpe militar no Chile. A curadora e pesquisadora Alexa Tala ressalta que o diálogo necessário entre intervenção e registro nesses trabalhos “vai abrindo possibilidades de interpretação e proporcionando experiências físicas e sensoriais que levam a questionar nossa relação com os espaços de poder e com a história”.
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